Quando a “Incubadora de bons comunicadores” está no lugar mais improvável

Falar é um atributo natural dos seres humanos. Usar a linguagem para os relacionamentos possibilitou avanços em diversas esferas do conhecimento.    Falar em público, no entanto, sempre foi visto como uma habilidade restrita a uns pouco bem-aventurados que tiveram a sorte de nascer com esse dom. Quem não teve a mesma sorte, sempre fugiu das situações em que teria que se expor publicamente. Até bem pouco tempo atrás, isso era  possível. Mas hoje, mais do que nunca,  a habilidade comunicativa é realmente, uma  competência importante tanto nos relacionamentos pessoais quanto profissionais, forçando, de certa forma, a exposição oral em qualquer profissão.

Por conta disso, frequentemente sou solicitada a dar algumas “dicas” sobre o que podemos fazer para melhorar a comunicação.  E como vivemos em um mundo que tem pressa, a maioria das pessoas gostaria de ouvir uma dica “poderosa”, capaz de transformar instantaneamente sua comunicação. Nessas ocasiões, explico que comunicação não é uma dádiva, é uma construção. Não nascemos falando. Aprendemos a falar ouvindo nossos pais, irmãos, professores. Inicialmente, num processo quase de imitação, que depois vai sendo modificado por nossas características e experiências  pessoais.  O lado bom disso é que,  enquanto houver vida e novas experiências,  nossa comunicação pode ser a melhor portadora delas. O lado “ruim”  é que não é um processo mágico.   É um aprendizado, e como qualquer aprendizado precisa de três ingredientes principais :  Atenção, repetição e emoção.

Outro dia, assistindo ao Jornal Nacional, fui presenteada com uma reportagem  daquelas de encher o coração de esperança.  E hoje,  ela vai me ajudar a falar sobre esses três ingredientes . O responsável por contar a historia foi o repórter Alan Severiano, que com sensibilidade,  conseguiu nos mostrar como, mesmo em um ambiente hostil, árido e sem esperanças, pode brotar uma luz no final do túnel.   Ele conta a experiência bem sucedida de uma biblioteca  na periferia da cidade de São Paulo que,  por falta de espaço, teve que se mudar de um posto de saúde, para o único lugar disponível e com condições de abriga-la na região:  um cemitério! Se você puder, assista a matéria inteira, em https://globoplay.globo.com/v/7781345/programa/  porque vale a pena.

Mas por ora,  vou destacar  três atividades  lá apresentadas e que, na minha opinião, são indispensáveis pra quem quer se tornar um comunicador e,  porque não dizer,  uma pessoa melhor.   A primeira, e mais óbvia delas,  é o poder da Leitura para a  Criação de Repertório. Para que as palavras “brotem” fluentemente em nossas falas e discursos, é preciso que a gente tenha familiaridade com elas e a leitura nos abastece com palavras e conteúdos de uma maneira muito prazerosa.  A segunda atividade é a Contação de Histórias para criação de Laços Emocionais , um hábito dos nossas antepassados,  hoje tão diluído no meio de tantas demandas e tarefas.  E, finalmente, o Trabalho Voluntario para o estabelecimento de Conexão Comunicativa.   Falar sobre o que   sabemos fazer bem,   pra quem quer ou precisa nos ouvir, é um exercício sensacional de comunicação.

Terminei de assistir a essa reportagem com a certeza de que sim, somos animais gregários que gostamos de  viver com outras pessoas em que buscamos bem estar e felicidade .  E estudiosos  da neurociência são unânimes em  reconhecer a influência da ação hormonal sobre a nossa sensação de bem estar e felicidade. Eles apontam quatro hormônios como essenciais para essa sensação  e, tenho certeza que todos esses hormônios,  inundam os cérebros de todos os personagens da nossa historia. São eles: DOPAMINA  também chamado hormônio do prazer, e nos motiva a fazer o que fazemos.  OCITOCINA , que é o hormônio dos vínculos emocionais  e gera empatia . ENDORFINAS, que  reduzem  a sensação de dor, atuando como analgésicos naturais  e SEROTONINA, que   nos dá a sensação de que somos importantes para os outros, que  fazemos parte de um contexto.

Fica pra mim a certeza de que os  ingredientes indispensáveis para a empatia dos  bons comunicadores estão por toda parte . Basta olhar com olhos atentos para enxerga-los. E que as oportunidades de usar esses ingredientes pra exercitar essa habilidade estão bem mais próximas do que imaginamos.

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