Pode ser um cunhado, um primo, um tio, um colega de trabalho. Mas, quase todos nós temos alguém na família que é especialista em tudo. Eles têm uma opinião formada sobre qualquer assunto, discutem e analisam qualquer tema, inclusive os mais difíceis. Sem o menor pudor, têm palpites e soluções para qualquer problema, e não guardam apenas para si. .Frequentemente, falam com tamanha propriedade e autoconfiança, que impressionam até os mais incrédulos. Falam tão bem, que acabam convencendo a si mesmos que estão certos.
Mas, o que leva uma pessoa a pensar que é mais competente do que alguém que realmente estudou e se especializou em um assunto? David Dunning e Justing Kruger , psicólogos da Cornell University, pesquisaram exatamente esse assunto e descreveram o que denominaram “Efeito Dunning-Kruger”. O nome é difícil, mas o conteúdo é facilmente reconhecido por nós, especialmente nos dias de hoje: “quanto mais incompetente uma pessoa é, menos ela tem consciência de sua própria incompetência”. Em outras palavras, esse efeito se aplica a indivíduos que não têm competência em uma determinada área, mas acreditam que sabem mais do que os verdadeiros especialistas num determinado tema. São pessoas que superestimam suas próprias qualidades e ignoram a própria incompetência.
Esse excesso de confiança em uma superioridade intelectual que não possuem, associada à falta de percepção de sua limitação, dão suporte ao domínio da oratória, que leva multidões a acreditarem em suas afirmações e, infelizmente, a tomarem decisões desastrosas.
Vivenciar esse efeito em um jogo de tênis ou de pôquer, não tem grandes consequências. Mas o que dizer quando o efeito envolve um assunto que coloca em risco milhões de vidas, como no caso da pandemia do COVID 19? E, pior: o que fazer quando o “Efeito Dunning-Kruger” ocorre de forma coletiva, como o que estamos assistindo nesse exato momento?
Não são um , nem dois, nem dez. São milhares de pessoas que, ancoradas em suas teorias e crenças, sentem-se seguras para não usar máscaras de proteção. São milhares de pessoas que não acreditam no vírus, e que temem que haja uma conspiração por trás da vacina. E como na vida tudo sempre pode piorar, essas pessoas não se contentam em andar sozinhas na contramão de todas as evidencias cientificas . Elas fazem questão de disseminar suas ideias negacionistas, fervorosamente.
Felizmente, nunca é tarde para nos vacinarmos contra o Efeito Dunning Kruger. E a vacina que os especialistas nos recomendam, é a informação. Mas a informação que reconhece e respeita os especialistas. A informação que se curva e se sustenta nas evidências cientificas.
Sigamos fugindo de discursos entorpecidos por certezas e crenças. Sigamos aprendendo a ouvir e a falar com tolerância e reflexão. E fazendo todos os dias o “teste” para nos certificarmos que não caímos, nós mesmos, na armadilha do Efeito Dunning Kruger.