Duas amigas se encontram pra um bate papo de fim de tarde. Até que uma delas, ao perceber que a pele da outra está absurdamente, linda e saudável, pergunta: “Nossa, o que você faz pra deixar sua pele tão firme assim?” A resposta vem naquele tom de voz que usamos quando algo é obvio: “vitamina C!”
Ao ouvir essa resposta, a amiga tenta imaginar a quantidade de frutas que ela teria que comer para conseguir aquele resultado….De imediato, a amiga da pele bonita esclarece que a vitamina C ela consegue usando um determinado creme hidratante…
Costumo usar muito o exemplo desse comercial para explicar como funciona o nosso cérebro quando acompanhamos a fala de alguém. Ao tentar compreender e acompanhar cada descrição, narrativa ou explicação, nosso cérebro cria imagens, tentando associar o que ouvimos com as referências que temos. Dependendo da maneira como alguém nos conta uma história, construímos um “filme” na nossa cabeça que pode estar bem perto da intenção original do contador…outras vezes, quando nossa compreensão não corresponde a esse intenção inicial, o filme pode sair bem diferente, como no exemplo do comercial.
Muitos pesquisadores, na área da linguística e da psicologia têm se ocupado em entender como se processa a nossa linguagem. Como emitimos e compreendemos nosso código linguístico? Com que precisão isso acontece? Quais estruturas cerebrais estão envolvidas? O que dá errado quando há mal entendidos? São muitas as perguntas ao longo de décadas de estudos, mas há algumas certezas. Uma delas é a de que a produção e a compreensão da fala são atividades conjuntas e interdependentes.
A chegada de novas tecnologias permitiu que as Neurociências avançassem bastante a compreensão desses temas nas ultimas décadas. Permitiu por exemplo, que cada um desses momentos, (o da produção e da compreensão da fala) fossem estudados em detalhes. Mas uma equipe da Universidade de Princeton resolveu encarar um desafio maior: o de investigar esse processo analisando ao mesmo tempo o falante e o ouvinte. O professor Uri Hasson e sua equipe mapearam os cérebros de contadores de histórias e ouvintes utilizando um aparelho de ressonância magnética funcional. Ele conta os resultados dessa pesquisa num Ted Talk bem interessante, onde descreve os achados dos principais experimentos dele e de sua equipe. TED TALK URI HASSON 03/06/2016
https://www.youtube.com/watch?v=FDhlOovaGrI
Uma das conclusões que mais me fascinam nesse estudo, é a que diz que quando ouvimos uma história bem contada, nossa atividade cerebral é similar a do contador da história. Há uma espelhamento da atividade, com um ligeiro atraso. Porém, quando o contador de histórias é muito bom, pode haver até uma atividade antecipatória no cérebro do ouvinte! Isso significa que em comunicações bem sucedidas existe um acoplamento nos padrões cerebrais de quem fala e de quem escuta. O mesmo não acontece em comunicações mal sucedidas. E isso é bárbaro! Sentimos essa sincronia quando acompanhamos a fala de bons oradores ou de bons contadores de histórias!
Quem dera pudéssemos ter no celular, um aplicativo que nos mostrasse, em tempo real, se estamos conseguindo, ou não, o tal “espelhamento cerebral” quando falamos…Enquanto essa tecnologia não chega às nossas mãos, o jeito é garantir, de outras formas, que a nossa história chegue na íntegra à cabeça dos nossos interlocutores. Podemos começar, usando de fato a via de mão dupla que é a comunicação humana, e ajustar nosso “radar” pra captar as muitas informações que eles nos passam, enquanto nos ouvem, assim como as expressões faciais e o olhar da menina do comercial do creme hidratante com vitamina C. Munidos dessas informações, podemos melhorar nossa clareza, a tempo de impedir um mal entendido. Estar atento às reações dos nossos ouvintes é um indicador poderoso, mas que nem sempre usamos.
COMERCIAL NIVEA VITAMINA C